Tomei meu primeiro gole de água tônica hoje, aos 20 e poucos anos. Confesso que sempre tive curiosidade, mas sempre me desencorajaram, balbuciando palavras horrendas, olhando como se eu fosse um alienígena por estar querendo comprar essa bebida. A mais amena das palavras que me dirigiram foi: "Tenho um tio velho que gosta dessa porcaria!"
Logo pensei nessa bebida, que é refrigerante e tem nome de água, como alguma coisa intragável, amarga e que só as pessoas amarguradas teriam porte para tomá-la pura. Após me sair risivelmente mal em uma prova, numa tarde escura que mais parecia noite e na qual a chuva gelada pingava entre minhas madeixas longas e a minha touca que lutava inutilmente com a torrente, como um soldado portando um simples escudo diante de um potente morteiro, senti-me amargurado o suficiente para a tarefa. Sem apelar para o lirismo e para a linguagem poética, enfim, fui comprar essa merda!
Entrei na loja e a "dona de sempre" falava ao celular. Procurei em meio as diversas bebidas que já me eram agradáveis o temível néctar dos amargurados, pelo menos assim eu pensei que fosse. Saquei umas moedas, paguei com exatidão, sem receber o troco e levei a bebida para casa como se fosse um troféu.
Despindo o casaco e touca encharcada, fui correndo apressar esse momento que eu tanto adiei na minha vida: experimentar a água tônica! Abri a tampa e senti o gás, até aí nada de novo. Tentei em vão obter alguma informação pelo cheiro, mas logo lembrei de ter as vias nasais congestionadas, até por causa do tempo, que não ajudava.
Tomei! virei uma golada farta e deixei na boca! Sim, o gosto era amargo como eu imaginava, mas talvez um pouco mais cítrico do que eu pensei. Ah vai, nem é tão ruim... é bom! Não, é ruim... mais ou menos! Ah cara, é bom! Foda-se! O gosto não foi pela bebida em si, mas sim pela experiência.
Comecei a pensar em quantas coisas eu deixei de fazer porque os outros disseram que seria ruim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário